Já não sei se é pelas noites de lua cheia, ou se das chuvas ácidas que caem pela manhã. O certo, é que num sopro vindo do nada, certas almas são espicaçadas com veneno, sem se darem conta do transe maquiavélico, que apeçonha seus poros, bloqueando estes de se verem livres das impurezas. Se vai mesclando lentamente com as químicas sentimentais, perfidamente cegando-lhes a visão. Disfarçadamente acontecendo amiúde nestes últimos tempos de grande agitação. Aconteceu um caso, que andou de boca em boca até chegou ás teclas do teclado, daquelas máquinas isentas de cérebro mas portadoras de uma memória extraordinária.
O facto relatado, é sobre duas Senhoras, que em tempos passados sua amizade fazia brotar as mais gostosas gargalhadas entre sorrisos de girassóis virados ao alto. Inesperadamente algo aconteceu com as duas senhoras. Uma apeçonhou a alma, e seu nome é Inveja. Já a outra adoeceu, e seu nome foi Bondade.
Uma amizade que parecia ter raízes bem assentes na profundidade da terra, se inunda soltando os entrelaços num dilúvio desesperante, incompreendido. Deixando-se arrastar e devorar por sentimentos malditos, a Senhora Inveja deixa-se possuir. Até então, uma Senhora a ser perseguida como ídolo. Tudo começou quando a Senhora Bondade resolveu colocar traves à vida, depois de ter adquirido um dos sonhos da sua longa lista, uma própria habitação. Sofrendo as consequências, a sua vida social. A frequência das suas saídas se limitaram, seus trajes adqueridos até à data se mantiveram por longas épocas. Moderando com maestria suas economias expandindo assim o adubo. A senhora Inveja que já à muito contava com um castelo só seu, não mostrou grande alforria por sua amiga
obter o seu próprio cantinho. Pelo contrário, ouve um certo desequilíbrio ou até mesmo o ruir de palavras em tom sinistro, contra a Senhora Bondade. Em seu lugar, a Senhora Bondade, não deu grande importância ao facto acontecido, apesar de o ter sentido. As sinistras passagens não ficaram por aqui. Outrora, as duas Senhoras foram conhecidas como um par de flores vindas da mesma haste, seus gostos, pensamentos, até os sentimentos, jorravam o mesmo polen. Obviamente a haste se quebrou, cada flor desabrolhou-se em direcções distintas. Para a Senhora Bondade a ruptura desta amizade ficou-lhe longe de ser compreendida, numa antipatia esgotada do nada, corrompida. Por outro lado a Senhora Inveja se cegou de tal maneira com o egoismo, que deixou filtrar em si o desencanto da arrogância e rancor. Foi de tal maneira cruel, que deixou sua amiga morrer, da isolação da sua presença. A Senhora Bondade malignamente adoeceu, cancerosamente enraizada não resistiu. Uma grande magoa a acompanhou na sua partida. Não podendo despedir-se de sua querida amiga. Durante o estado penoso da doença da Senhora Bondade, a Senhora Inveja afirmava que ela não estava tão grave assim, que eram somente gestos para chamar atenção de todos. Ser o centro dum pedestal, altaneiramente. Durante a fase terminal de sua amiga, resolveu ir passar férias até uma praia. Numa das manhãs de relaxamento junto à piscina do hotel, recebe um telefonema; alguém a informou da morte da Senhora Bondade...
Hoje, a solitária Senhora Inveja dedica-se há horticultura, com uma dedicação fora do comum. É na Primavera que ela se encanta, com o manto de girassóis estendido naquele vale da morte. Ela costuma dizer que os girassóis são anjos de luz, protectores das almas cegas.
A morte de sua amiga tocou profundamente sua alma. Algo, talvez uma mão sacudiu o pó que intoxicava sua alma podre, deixando entrar novamente uma luz poderosa de sentimentos aveludados. A inveja tornou-se solitária dos monstros peçonhentos da arrogância e egoísmo. Dando lugar à humildade, com a mente sempre atenta para possíveis inimigos. A Senhora Inveja, viveu o resto de sua vida tentando abrir luz, aqui e ali, com os seu predilectos girassóis; envergando sempre a capa da inveja, com orgulho. Não foi esta que queimou os laços de amizade. Naqueles distantes dias de amor e carinho que foi nutrido na amizade das duas Senhoras, a tal inveja era saúdavel, balanceava a extrema bondade da Senhora Bondade.
2 comments:
Estimada Amiga e Ilustre Poetisa Alcina,
Um belo conto, maravilhosamente escrito, a vida diariamente nos vai dando lições, porém a maioria das pessoas as entendem mas não seguem os seus ensinamentos e como tal, as coisas más esses são assimiladas, esquecendo-se a outra parte da vida que é o amor, a amizade e a faternidade.
Adorei.
Um abraço amigo - António Cambeta
Um areal morno acolheu
Teus passos ávidos da chegada
Caminhas na procura das marcas
De uma espera desencontrada
Calmaria!
A bonança reivindicou o Sol no celeste
Uniram-se os pedaços de rasgada vela
Tua alma retomou o sonho adiante
Boa semana
Mágico beijo
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